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Rodas de Cuidado já impactam a vida de mulheres que participam do Projeto Meninas em Movimento em Pernambuco

Publicado por: em 31/03/2022
Categorias: Notícias

Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Ivan Melo

Largar atividades cotidianas, afazeres domésticos e até mesmo os medos, dedicar um tempo para se cuidar, e depois retornar mais leve, mais forte e mais feliz. Quem nunca precisou fazer isso para lubrificar as peças da engrenagem de nossa existência neste mundo e melhorar nossa qualidade de vida nele? Essa é a proposta das rodas de cuidado, que estão a todo vapor dentro do projeto Meninas em Movimento, realizado pela Actionaid, em parceria com as ONGs Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

A atividade ajuda na construção da autoestima e mostra a importância de as mulheres dedicarem um tempo a si mesmas e ao cuidado com a própria saúde física e mental. As chamadas práticas integrativas iniciaram em dezembro de 2021 e vão até o segundo quadrimestre deste ano, com encontros que ocorrem nos sete territórios do projeto: Ibura e Passarinho, no Recife; Engenho Massangana, Gaibu, Vila Nova Claudete e Vila Suape, no Cabo de Santo Agostinho; e Vila Califórnia, em Ipojuca.

A cada encontro, as educadoras sociais abordam diferentes temas relacionados a autoestima e cuidado com a saúde, e as mulheres realizam atividades de partilha de experiências. O trabalho desenvolvido utiliza uma metodologia participativa, com direito também a movimentar o corpo e liberar o estresse do dia a dia. Alongamento, músicas e dança fazem parte desse pacote de valorização do corpo.

Mas as rodas também trabalham a mente, promovendo um espaço de fala e de escuta das questões do cotidiano das mulheres. A conversas caminham ainda pelos territórios dos direitos das mulheres, e nos encontros elas podem aprender um pouco sobre quais são seus direitos como cidadãs e como formar uma rede de apoio social em torno de si. Tudo é feito com acompanhamento profissional das educadoras e da assistência social.

O espaço da roda é um momento em que as mulheres olham para si, olham para outras mulheres, trocam experiências e informações, como explica a coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo, Nivete Azevedo, que coordena o projeto nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca:

“Trabalhar esse cuidado é fundamental para que a gente possa fortalecer a rede de proteção das crianças e adolescentes, fazendo com que essas mulheres cuidadoras estejam numa rede de proteção também: sendo cuidadas, olhadas, acompanhadas de forma mais terapêutica. Aqui é ainda um lugar onde elas se reconhecem e estabelecem uma relação de confiança com o grupo, dentro da comunidade.”

A empreendedora Mônica Arruda, 45 anos, é uma das moradoras da Vila Nova Claudete, no Cabo de Santo Agostinho, que estão colhendo os benefícios de estarem inseridas em um desses grupos. Ela saiu do isolamento social da pandemia direto para as rodas, e as mudanças em sua qualidade de vida já são perceptíveis.

“Eu estou conversando, vendo outras pessoas, ouvindo outras histórias, sendo ouvida. Isso mudou meu comportamento no dia a dia, em casa, com meus filhos… Estou tendo visão de outras coisas”, revela ela, que agora está se sentindo apta a voltar à ativa em projetos de empreendedorismo.

De acordo com a assistente social Glauce Barbosa, que atua como educadora no projeto, as mulheres, durante as atividades, se alegram, sentem-se parte do processo, e passam uma expressão de autoestima elevada. Muitas contam que saem da rotina para os encontros porque sentem-se bem ao fazer isso.

“No início, elas chegavam no grupo muito receosas do que iria acontecer ali, mas depois nós percebemos a mudança. Muitas mulheres chegaram com quadro depressivo, e hoje já conseguem dizer que estão melhores e que não gostam de perder os encontros”, observa Glauce.

Mãe de quatro filhos, Eulina Rodrigues de Santana Silva, 46, já percebe os efeitos das rodas de cuidado dentro de casa. “Agora com esse projeto, na quinta-feira, minha neta diz: ‘tu vai pro teu projeto, visse, vai-te embora porque quando tu chega tu chega com um sorriso tão bonito, tão lindo’”, conta Eulina, que trabalha com serviços gerais e cria uma neta de 8 anos. “Quando eu venho pra cá, chego com aquele peso, aquele estresse, aquela agonia, e quando saio daqui, saio perfeitamente bem, mais calma, mais tranquila. Às vezes acontecem coisas na semana, mas quando chego aqui eu converso com as meninas, e eu saio daqui linda e maravilhosa, com aquele corpão já relaxado”, complementa.

A coordenadora Nivete explica ainda que o contexto da pandemia agravou a situação da carência, da preocupação e do adoecimento das mulheres. Por isso, é tão necessário que elas, que são as cuidadoras das crianças e adolescentes, estejam fortalecidas para fazer esse cuidado de forma mais segura, mais orientada e com mais tranquilidade. “É fundamental para que a gente possa atingir os objetivos do projeto, que é enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes, sobretudo empoderando as meninas e mulheres”, afirma Nivete.

A merendeira Laura Monteiro, 33, é mãe de uma das meninas atendidas pelo projeto e reconhece o quanto as rodas têm sido importantes para as mulheres se prepararem para tratar desse assunto com os filhos e com a própria sociedade. “Eu vim de uma ocupação sem teto, então a gente carregou muita água na cabeça para construir nossas casas. Muitas vezes nossos filhos ficavam vulneráveis, e a gente não sabia como tratar isso e, hoje, aqui nessas rodas de conversa, a gente se prepara, aprende a lidar com a situação. Muitas mães se sentem envergonhadas das situações que vivem em casa, mas elas têm que aprender a se protegerem e protegerem os filhos”, avalia Laura.

Dentro dos assuntos abordados, as rodas trabalham também temáticas voltadas para o calendário feminista, como, por exemplo, o 8 de Março, quando as participantes discutiram o tema “Mulheres unidas por mais poder, mais direitos e representatividade na política”. “Elas puderam exercer a cidadania, mostrando quem são as mulheres que nos representam na câmara de vereadores do município, por exemplo. Depois elas mesmas fizeram o exercício de se candidatarem. Foi uma maneira de sentirem que podem ocupar o espaço que elas quiserem ocupar nesse universo”, ressalta Glauce.

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